2 de março de 2010

Paraty em Infravermelho (ou "O Adeus da G3")

Há poucos dias vendi minha valente câmera Canon Powershot G3.  Ao longo de 7 anos ela cumpriu muito bem seu papel de preservar a memória visual de momentos e lugares felizes, importantes, curiosos, chatos...  Nos 3 últimos desses anos sua personalidade mudou radicalmente, e ela passou a ver o mundo não mais como um simulacro da limitada experiência colorida primata, mas além (ou aquém, se considerarmos o prefixo 'infra') disso, onde o silício do sensor captura uma realidade  ordinariamente invisível a nós. Similar na forma, alienígena na relação entre os tons, exótico e paralelo ao nosso, esse mundo do assim chamado infravermelho próximo também é limitado - posto ser apenas outra fatia do espectro eletromagnético - mas nos chama a atenção para a infinidade de "realidades" que se desenrolam simultaneamente, sem  que nossos sentidos e consciência as apreendam.

Para homenagear a G3 em sua partida, eu poderia fazer uma seleção de fotos coloridas e infravermelho representando o que ela testemunhou ao longo desses anos todos conosco, mas ao fazer um backup de fotos que corriam risco de desaparecer de uma hora para outra do meu HD, redescobri uma série feita em Paraty, nas férias de 2007, há exatos 3 anos. Todas foram feitas em infravermelho, utilizando um filtro Hoya R72 com a câmera então recém-convertida para o que os gringos chamam de "full-spectrum" (com o filtro bloqueador de infravermelho substituído por um pedaço de vidro transparente).  Nenhuma dessas fotos foi mostrada anteriormente na internet, e esse foi o motivo principal de eu tê-las escolhido nesta "homenagem", além é claro das saudades que sinto de Paraty, onde não voltamos desde então.  Dividi as fotos em quatro seções, de acordo com o tema geral.

Paisagens

 
Foz de um rio próximo à praia de Jabaquara (essa ainda é minha foto favorita de toda a série!)

Vista da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios

 Cavalos pastando na ponta da praia

Ciscando numa praia lunar...


 A Cidade (Centro Histórico)

Para onde ir agora?

 
Nessa época a cidade estava reforma, toda a fiação elétrica do Centro Histórico passaria a ser subterrânea, e os trabalhadores estavam por todos os lados.  Pedras dos calçamentos, que estavam lá há centenas de anos, foram retiradas para a passagem dos cabos. Muitas provavelmente não voltaram aos seus lugares originais...

Aliás, os pequenos caranguejos que vivem entre as pedras das ruas com certeza não foram consultados quanto à conveniência das obras!


Igreja do Rosário de dia


Igreja do Rosário à noite


Prédio de 1836

A umidade e o calor atacam tudo, mas o sol ajuda a tirar o mofo das almofadas

Nesse ambiente, tudo necessita de constante manutenção (que nem sempre ocorre a tempo)


O Cais (Barcos)

Um dos meus lugares preferidos em Paraty, com seus barcos de pesca e passeio ancorados, chegando e partindo.

Reflexos distorcidos na água escurecida pelo infravermelho

Contemplação em meio à aparente confusão de cordas, redes, cabos e correntes

 
O nome do "local de trabalho" dessa gente muitas vezes é inspirado em seus amores, humanos ou não...

Como um cavalo ou um cão preso a sua guia, a vontade do barco é se soltar, se livrar do cabo que o prende à terra firme, e explorar o mundo

Um pouco de humor não faz mal ;)


Bicicletas

Em terra, além dos próprios pés, a bicicleta é um dos meios de transporte preferidos

Bicicletas também namoram. É sério, basta ver esta foto para se convencer! A moça chegou e estacionou sua bicicleta cor-de-rosa (à esquerda, embora infelizmente a cor esteja ausente na foto acima) ao lado da bicicleta azul do namorado, que já a aguardava.  

Esta foto foi tirada um minuto após a primeira, quando os dois namorados já haviam entrado na casa. Apesar dos defeitos técnicos da primeira foto, prefiro ela a esta -  aliás não consigo olhar para aquela foto sem sorrir e me sentir mais leve! O amor pode não ter nenhum sentido, mas tem todo o sentido do mundo!

Além de namorar, bicicletas também vão a cafés, onde devem aguardar seus donos no lado de fora do estabelecimento, diferentemente do que ocorre com cães (frequentemente de raças com nomes impronunciáveis) em certos shopping centers de São Paulo.


Bicicletas também ajudam seus donos a fazer a transição entre a terra e o mar. Normalmente elas não entram nos barcos, pois o mar não é seu elemento. Apenas aguardam pacientes o retorno daqueles a quem trouxeram...


Claro que não ficam soltas por aí, pois são muito liberais, e iriam facilmente com qualquer um que as convidassem para um passeio


 
O caiçara volta para casa no fim do dia.

The End! Esta foi a última foto da série "Paraty em Infravermelho", aliás  a última foto que tirei nas férias de 2007.  Pelo registro da câmera, ela foi feita no dia 29/3/2007 às 17:11:36.  Segundos depois, supondo-me muito mais ágil do que sou, estourei a perna ao tentar subir essa mureta num pulo! As férias tinham chegado ao fim. Tenho a cicatriz até hoje para me lembrar que não sou um super-herói...



5 comentários:

  1. CLAP, CLAP, CLAP...

    Parabéns pelo post. Texto e imagens incríveis.

    Continue nessa levada e esse blog fará muito sucesso!

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  2. Valeu, Edu! Aliás, ainda preciso saber como se faz para seguir um blog. Sou tosco mesmo! ;)

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  3. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  4. Hum...voltei para fazer uns comentários (que gracinha, babaca, afinal aqui é o espaço para isso mesmo: comentários!) sobre as infra:

    - sobre a foto "para onde ir...", sugiro que pergunte à muchileira à sua frente. Presumo que ela sempre tem uma resposta :)
    - sobre as infra, tenho uma sensação estranha ao vê-las, uma perturbação visual (ah, aqui não é um site oftalmológico...) pela profundidade diferente que a de costume, fornecida pelo olho humano. Ainda não me acostumei a ter essa percepção. Minha astigmática visão detona, talvez, os canais infra e me devolve um chapado :( Serei um ET? Gostaria de saber outras opiniões sobre as infra...

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  5. O aspecto ET / estranho faz parte do apelo das infra. Gostei tanto das fotos que acabei de converter minha camera compacta pra infra. Deu um trabalho... >_<

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